Em minhas numerosas pesquisas encontrei uma entrevista do site 360Graus com uma aviadora da VARIG.A entrevistada conta sua historia e faz citações sobre a Pioneira muito interessantes.Vamos conferir:
"Entrevista com Marina Deluqui, uma mulher na aviação
Tema:Esportes aéreos
Autor: Redação 360 Graus
Data: 24/1/2012
Marina Deluqui, 46 anos, começou a pilotar ainda na adolescência. Sofreu preconceito machista de homens e mulheres que acreditam que a aviação deve continuar sob domínio apenas masculino. Em entrevista ao 360graus, Marina conta como entrou na aviação, os obstáculos que enfrentou e como conciliou os desafios da vida pessoal com a carreira de aviadora.
360graus - Como foi o início da sua carreira na aviação?
Marina – Tudo começou por total influência dos homens na minha família. Aos domingos, as corridas de Fórmula 1 eram sagradas. Meu pai, Léo, e meu irmão, me explicavam tudo a respeito de carros: diferenças e características dos motores, suspensão, pneus.
Quando eu tinha 14 anos fizemos uma viagem de avião pela primeira vez. Enquanto voávamos sobre o Oceano Atlântico, o Jumbo sofreu um enorme "vácuo" e todos os passageiros se desesperaram, mas meu pai e eu demos risada. Ao final da viagem meu pai me perguntou: “Você gostaria de tirar "brevet" um dia?” A semente foi plantada.
Aos 19 anos, por acaso passamos pela porta do Aeroclube de São Paulo, onde estava escrito em letras garrafais: Escola de Pilotagem de Alto Nível. Não tive dúvidas, estacionamos o carro e peguei um panfleto com informações. Quando chegamos em casa mais tarde, perguntei para o meu pai: “Você lembra daquela pergunta que me fez cinco anos atrás?” Imagina a expressão no rosto da minha mãe! Naquele ano, 1985, comecei a fazer o teórico de Piloto Privado no ACSP. E me apaixonei!
360graus - Por que você decidiu seguir a carreira de aviadora?
Marina - Eu acreditei que servia para alguma coisa, que tinha talento para exercer a atividade. Era uma adolescente típica: classe média alta, rebelde sem causa, gordinha, tipo sanfona, e sem nenhum objetivo específico. E naqueles primeiros meses estudando no ACSP, escutando os pilotos mais experientes, passeando pelo Campo de Marte e fazendo meu primeiro voo, no dia 9 de Setembro, no Cherokee PT-IZU, eu me encontrei!
360 graus - Em quais lugares trabalhou como piloto e por quanto tempo?
Marina - O primeiro emprego, aquele que você deixa de pagar para voar e começa a receber para voar foi no ACSP, onde fui integrada ao quadro dos instrutores, em novembro de 1989, até meados de 1991. Oficialmente, fui a primeira mulher instrutora da entidade, mas gostaria de fazer minha humilde homenagem a Marcia Mammana, já falecida. Antes da minha chegada na instituição, ela dava instruções no Departamento de Acrobacia.
Voei como piloto free-lancer para alguns fazendeiros no interior de São Paulo e Mato grosso do Sul, acumulando experiência e horas.
Em 1990, a aviação começou a crescer no país e as grandes companhias aéreas começaram a contratar. Nessa época, a VASP tinha contratado sua primeira piloto, Arlete Ziolkowski, e comecei a ter esperanças dentro de mim, que também poderia ser contratada um dia. Mas a VASP exigia 1500 horas e eu estava chegando nas minhas primeiras 1000 horas.
Logo em seguida, a VASP contratou a sua segunda piloto, Carla Roemmler, e o cenário começou a ficar favorável. Inscrevi-me para o exame teórico da VARIG por pura curiosidade. Queria avaliar minha posição numa prova dessa importância, pois tinha certeza que só chamaria a atenção de uma das nossas companhias aéreas, se passasse em primeiro lugar. Estava no lugar certo, na hora certa com o currículo certo e, após longo e rigoroso processo de seleção, fui admitida na VARIG como co-piloto em setembro de 1991.
Nessa mesma prova, outra aviadora, Kalina Cox Comenho, também foi selecionada e se tornou a primeira mulher piloto na pioneira. Dessa forma fui a quarta mulher na aviação brasileira a ser contratada por uma companhia aérea.
Voei na VARIG mais de 15 anos: 737-200, 737-300, 737 NG, 767 e MD-11, acumulando 10.000 horas de voo, até meados de 2006.
360graus - Em algum momento você se sentiu discriminada por ser mulher num meio dominado pelos homens?
Marina - Sim e não. Muitas pessoas foram claras a respeito de não apoiarem a ideia de mulheres tornarem-se pilotos. Mas continuei focada na minha carreira e no que eu acreditava. Algumas pessoas eram gentis na minha frente, mas faziam comentários maldosos ou agiam pelas costas. Cheguei a escutar de algumas pessoas: “Até que para mulher, você voa melhor que muito homem.” Nesse caso é preciso considerar elogio, pois a pessoa em questão não faz ideia do preconceito na sua fala. A discriminação veio por parte de homens e mulheres, de todas as idades e diferentes "backgrounds".
Mas o apoio, a ajuda, a torcida, a instrução e a inspiração sempre foram maiores e muito mais significativos. Tenho na minha memória, pessoas e famílias especiais, que durante a minha jornada foram imprescindíveis no meu avanço e fazem parte das minhas conquistas. A lista é grande. No decorrer da carreira aprendi que eu não precisava que os colegas gostassem de mim como pessoa e sim que me respeitassem como profissional, membro funcional e altamente capacitado para fazer parte de qualquer tripulação. E isso vale para qualquer piloto, independente do sexo, religião ou cor.
360graus - Você parou de pilotar aeronaves em 2005. Por que isso aconteceu? Você pretende voltar?
Marina - Em 2005, com quase 40 anos, descobri que estava grávida. A Nina nasceu em dezembro e a maternidade me completou de uma forma inesperada. Acreditando que minha filha deveria crescer e ser educada na presença constante do pai Troy, velejador profissional que conheci durante meu baseamento em Los Angeles, optei por construir minha pequena família. Nunca deixarei de ser aviadora. O amor e respeito pela aviação continuam comigo e são compartilhados na nossa família. Continuo virando criança quando vejo um belo show aéreo.
Profissionalmente continua sendo uma opção, pois a aviação no Brasil está numa excelente fase. Hoje priorizo um projeto diferente, um sonho espetacular, mas esse assunto pode ficar para uma próxima entrevista.
360graus - Durante toda a sua carreira, quais foram os momentos mais difíceis que você enfrentou?
Marina – Tecnicamente, todas as emergências e procedimentos não normais que sofremos são difíceis - e foram poucos nestes 20 anos voando -, mas nossas tripulações estavam sempre preparadas e devidamente treinadas. Os momentos mais difíceis na minha carreira foram de ordem pessoal: na ausência de datas importantes cumprindo escala, descobrindo que meu irmão veio a falecer por telefone após um voo cansativo e durante o divórcio do meu ex-marido. Aprender a conciliar a vida pessoal e alcançar um alto nível de profissionalismo que a profissão exige, faz da carreira de piloto comercial um desafio fascinante e requer total dedicação."
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